O acidente vascular cerebral (AVC) repercuti em fatores emocionais tanto para pessoas acometidas por essa doença como também para seus familiares que necessitam lidar com todos os desafios impostos pelas limitações que ficaram como sequela.

O AVC é a doença que mais mata no Brasil e a que mais causa incapacidade no mundo: cerca de 70% das pessoas que sofrem um AVC não retorna ao trabalho depois do acidente vascular cerebral e 50% ficam dependentes de outras pessoas no dia a dia.

O AVC decorre da alteração do fluxo de sangue ao cérebro. Responsável pela morte de células nervosas da região cerebral atingida. O AVC pode se originar de uma obstrução de vasos sanguíneos, o chamado acidente vascular isquêmico, ou de uma ruptura do vaso, conhecido por acidente vascular hemorrágico.

Cada pessoa que foi acometida por um AVC tem seu próprio processo, que é único, como uma impressão digital, sendo resultado da interação entre cérebro (onde muitas variáveis são intervenientes como localização, extensão da lesão, tempo de espera para auxílio médico, tipo de AVC, idade etc.),
emoções, experiências e reserva cognitiva.

Geralmente o AVC pode cursar com cinco tipos principais de déficits: paralisia e alterações da motricidade, alterações sensoriais, alterações da comunicação, alterações cognitivas e distúrbios emocionais.

Após o AVC é fundamental que a pessoa inicie o processo de reabilitação das sequelas resultantes. Sabe-se que os seis primeiros meses são fundamentais para reabilitação, representando uma janela de tempo bem importante para se investir na recuperação dos déficits.

O AVC sempre será um acometimento inesperado, com alto potencial de ser vivenciado de forma estressante, representando uma ameaça ao senso de controle pessoal. Ele exige um grande esforço adaptativo, refletindo no enfrentamento dos desafios/limitações impostos, mesmo em casos mais leves.

Por ser um acometimento súbito muitas vezes o nosso psiquismo demora um pouco para assimilar tudo que aconteceu, e só aos poucos, com o passar dos dias e vivenciando as dificuldades que a “ficha vai caindo”.  As primeiras semanas são de muita expectativa quanto as sequelas que ficarão, e que necessitarão de reabilitação profissional.

Nos depararmos com as mudanças súbitas, nossas ou de um familiar pode ser muito desafiador, tendo em vista que muitas vezes este acometimento literalmente “vira a vida de cabeça para baixo”.

A reabilitação traz muitos desafios, normalmente não acontece em uma linha ascendente, infelizmente é normal alguns percalços, porém se faz necessário persistência. A reabilitação não acontece no tempo que nós gostaríamos, é no tempo do nosso corpo/cérebro, que deve ser respeitado, e é muito difícil para a pessoa essa espera, assim como lidar com a incerteza do quanto irá voltar ao seu estado “normal”, se é que irá voltar.

Muitos indivíduos que foram acometidos por um AVC experimentam uma depressão reativa e/ou reações de ansiedade. Estes também podem exibir dificuldades com a regulação emocional, incluindo labilidade emocional, irritabilidade e raiva, que muitas vezes são decorrentes da tristeza, sentimento de inutilidade, falta de autonomia e dependência de terceiros.

A depressão pós AVC traz um comprometimento significativo para a evolução do paciente, refletindo em problemas de ajustamento psicológico relacionados a aceitação dos limites impostos pela enfermidade. A depressão também pode afetar significativamente a motivação do paciente frente ao seu processo de reabilitação.

Lidar com a frustração pode ser um desafio enorme, tendo em vista que muitas vezes se espera um resultado e ele não acontece. Não é nada fácil viver com limitações repentinas, lidar com mudanças de planos, seus projetos inacabados.

A psicoterapia pode auxiliar o paciente e sua família ao longo deste processo sofrido, na aquisição de um entendimento novo e mais preciso de seus problemas, e nas maneiras de lidar com ele, bem como na aceitação de um “novo eu” e dos desafios que ele pode enfrentar.

Lidiane Andreza Klein    Psicóloga CRP 07/22872

Especialização em Neuropsicologia- UFRGS

Mestre em Psicologia e Saúde – UFCSPA

Doutoranda Ciências da reabilitação – UFCSPA

Neuropsicóloga do SerraVille Internação e Reabilitação Geriátrica