Alterações de linguagem e fala, compreensão verbal e a comunicação em geral, podem acontecer não somente como consequência de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), mas também de outras condições como Parkinson, lesões cerebrais por traumatismo crânio-encefálico ou doenças neurodegenerativas como demências tipo Alzheimer. Para compreender como se dá a reabilitação e recuperação, precisamos entendê-las.

O que é Afasia?

As afasias são problemas de linguagem causados por lesões no cérebro. Elas afetam a capacidade de falar e/ou entender o que os outros dizem. Na maioria dos casos, também causam dificuldades para ler e escrever. São comuns em pessoas que sofreram AVC (derrame) e ainda são pouco conhecidas pela sociedade.

A afasia é uma das sequelas mais graves após um dano cerebral, afetando profundamente a vida pessoal, social e profissional. Quando perdemos a capacidade de nos comunicar, ficamos limitados em expressar pensamentos e interagir com outras pessoas.

Quais são os tipos de afasia?

Existem diferentes tipos de afasia, classificados conforme as dificuldades em expressão, compreensão, repetição e nomeação:

  • Afasia global: A forma mais grave, com sérios problemas tanto para falar quanto para entender. O paciente pode ficar mudo ou repetir sempre a mesma palavra. Não consegue repetir palavras e frequentemente parece desinteressado e sem intenção de se comunicar.
  • Afasia de Broca: Caracterizada por fala não fluente e com esforço. As frases são curtas, com alteração na melodia da fala e problemas gramaticais. A compreensão é melhor que a expressão, mas pode haver dificuldades com frases mais complexas. A escrita e leitura também apresentam problemas.
  • Afasia de Wernicke: O principal problema é na compreensão. A fala é fluente, mas com palavras incorretas ou inventadas, tornando difícil entender o que a pessoa diz. A repetição e nomeação também estão afetadas. A escrita apresenta os mesmos problemas da fala.
  • Afasia de condução: A fala é fluente, mas com pausas e substituições de palavras. A principal dificuldade está na repetição. A leitura é muito afetada, enquanto a escrita apresenta erros frequentes.
  • Afasia anômica: A fala é fluente e bem estruturada, mas há dificuldade para encontrar palavras. O paciente frequentemente descreve o objeto que não consegue nomear. A compreensão é boa, com possíveis dificuldades apenas em tarefas mais complexas.
  • Afasia motora transcortical: A fala espontânea é muito reduzida, lenta e com esforço. A capacidade de repetição é melhor preservada. A compreensão pode estar relativamente normal.
  • Afasia sensorial transcortical: Combina boa capacidade de repetição com dificuldade para entender o que repete. A fala é fluente mas confusa. A compreensão está muito afetada.
  • Afasia transcortical mista: Apresenta graves problemas de expressão e compreensão, mas preserva a capacidade de repetição. O paciente não consegue se expressar bem nem compreender, mas pode repetir palavras e frases.

Tratamento e Recuperação de Afasia

A reabilitação tem dois objetivos principais: melhorar as habilidades de linguagem e ajudar o paciente a lidar com sua nova condição. Quanto mais cedo começar o tratamento e mais frequentes forem as sessões, melhores serão os resultados. Os primeiros seis meses são cruciais, mas a recuperação continua mesmo depois desse período, embora mais lentamente.

É difícil prever exatamente como será a recuperação, pois muitos fatores influenciam:

  • Características da lesão (tipo, localização, tamanho)
  • Características do paciente (idade, dominância manual, sexo)
  • Outros fatores positivos: nível educacional, habilidades linguísticas prévias, saúde geral e motivação

Alguns fatores podem dificultar a recuperação, como problemas de consciência, déficits sensoriais ou motores, epilepsia ou depressão. Um obstáculo importante é a anosognosia – quando o paciente não percebe que tem dificuldades para se comunicar. Nesses casos, a pessoa fala usando palavras estranhas achando que está se comunicando normalmente.

Os tipos de afasia descritos podem evoluir ao longo do tratamento, geralmente para formas menos graves à medida que ocorre melhora.


O que é Disartria?

Disartria é um problema na articulação das palavras causado por lesões no cérebro ou doenças que afetam os nervos e músculos responsáveis pela fala.

Quem tem disartria pode omitir, trocar, adicionar ou distorcer sons, tornando difícil entender o que a pessoa diz. Além disso, há dificuldade para movimentar a boca em atividades como sugar ou soprar. O caso mais grave é a anartria, quando a pessoa não consegue articular corretamente nenhum som da fala.

A avaliação da disartria precisa ser detalhada, pois sintomas parecidos podem vir de problemas muito diferentes. É necessário avaliar tanto a fala quanto os músculos usados na respiração, garganta, céu da boca, língua, lábios e mandíbula.

Tipos de Disartria

A disartria pode causar paralisia, fraqueza e descoordenação dos músculos da boca. Existem seis tipos diferentes, dependendo de onde está a lesão no cérebro:

  1. Disartria Flácida
    Causada por danos nos nervos que saem do cérebro ou da medula espinhal. Pode ser resultado de infecções, derrames, doenças degenerativas ou congênitas. Principais características:

    • Músculos fracos e sem tônus (flácidos)
    • Voz rouca e fraca
    • Fala com som nasal (como se estivesse resfriado)
    • Dificuldade para engolir
    • Articulação distorcida das consoantes
  2. Disartria Espástica
    Causada por danos nas vias que levam os comandos do cérebro para o tronco cerebral e medula espinhal. Pode ser resultado de derrames, traumatismos, esclerose múltipla, entre outros.
    Principais características:

    • Rigidez muscular em um lado do corpo
    • Fala lenta e trabalhosa
    • Voz rouca com tom baixo e monótono
    • Frases curtas com pausas irregulares
    • Possíveis mudanças emocionais repentinas (choro ou riso sem motivo)
  3. Disartria Atáxica
    Causada por lesões no cerebelo, a parte do cérebro que coordena os movimentos.Principais características:

    • Músculos com pouco tônus
    • Movimentos lentos e com força inadequada
    • Voz áspera e monótona
    • Distorções na articulação
    • Fala com ritmo irregular (ênfase em sílabas erradas)
  4. Disartria por Lesões no Sistema Extrapiramidal
    O sistema extrapiramidal ajuda a manter a postura e facilita movimentos automáticos.
    Suas lesões podem causar dois tipos de disartria:

    • Hipocinética (comum na doença de Parkinson)
      • Movimentos lentos, limitados e rígidos
      • Voz fraca
      • Fala monótona
      • Frases curtas
      • Ritmo de fala variável
    • Hipercinética
      Pode afetar todas as funções motoras da fala (respiração, produção de voz, ressonância e articulação). Inclui vários transtornos:

      • Coreias: movimentos involuntários irregulares, distorção das vogais, frases curtas
      • Atetose: movimentos involuntários lentos, problemas respiratórios, voz áspera
      • Tremor: movimento rítmico anormal que interrompe a voz
      • Distonia: movimento involuntário lento que altera o ritmo da fala e causa tremor na voz
  5. Disartria Mista
    É a forma mais complexa, combinando características de vários tipos. Pode ser causada por tumores, inflamações, traumatismos, derrames ou doenças como esclerose múltipla.

Tratamento e Recuperção da Disartria

O tratamento com fonoaudiólogo busca corrigir problemas na produção das palavras para melhorar a articulação e a comunicação.

O tratamento trabalha em várias áreas:

  • Postura
  • Tônus e força muscular
  • Respiração
  • Problemas na laringe durante a fala
  • Excesso de nasalidade
  • Defeitos na articulação
  • Alterações no ritmo e melodia da fala

O que é Apraxia de Fala?

Diferente de outros problemas de comunicação, a apraxia não é causada por fraqueza muscular ou paralisia, mas sim por dificuldades no planejamento e coordenação dos movimentos necessários para falar. Isso pode levar a erros de pronúncia, dificuldade em produzir os sons corretamente e alterações no ritmo da fala.

Quando uma pessoa tem apraxia de fala, seu cérebro “sabe” o que quer dizer, mas tem dificuldade em enviar os comandos corretos para os músculos da boca, língua, lábios e mandíbula. É como se houvesse uma “desconexão” entre o conhecimento das palavras e a capacidade de produzi-las corretamente.

Sintomas de Apraxia de Fala

Uma pessoa com apraxia de fala após um AVC pode apresentar:

  • Dificuldade para iniciar a fala: Hesitações e tentativas repetidas antes de conseguir dizer uma palavra
  • Erros inconsistentes: A mesma palavra pode ser pronunciada de formas diferentes em tentativas sucessivas
  • Maior dificuldade com palavras longas ou complexas
  • Alterações no ritmo e na melodia da fala (o que chamamos de prosódia)
  • Consciência dos erros: A pessoa geralmente percebe quando comete erros e tenta corrigi-los
  • Melhor desempenho em fala automática: Frases comuns como “bom dia” ou contar números podem ser mais fáceis
  • Dificuldade crescente com o cansaço: Os sintomas pioram quando a pessoa está cansada ou sob pressãoA gravidade pode variar desde leves dificuldades com algumas palavras até a incapacidade quase total de se comunicar verbalmente.

Tratamento e Recuperação da Apraxia de Fala

O tratamento da apraxia de fala é realizado principalmente por fonoaudiólogos e pode incluir:

  • Terapia de Fala Motora:
    • Exercícios repetitivos para melhorar o planejamento motor
    • Prática de movimentos específicos da boca, língua e lábios
    • Sequências de sons progressivamente mais complexas
  • Técnicas de Pistas Sensoriais:
    • Pistas visuais (observar os movimentos do terapeuta)
    • Pistas táteis (tocar em pontos específicos do rosto para indicar posicionamento)
    • Pistas auditivas (ouvir e repetir sons e palavras)
  • Estratégias de Ritmo e Melodia:
    • Técnicas de entonação melódica (cantar as palavras)
    • Bater palmas ou marcar o ritmo durante a fala
    • Falar com ritmo controlado e pausas planejadas
  • Comunicação Alternativa e Aumentativa:
    • Uso de gestos e expressões faciais
    • Dispositivos eletrônicos de comunicação
    • Aplicativos de comunicação para smartphones e tablets

Como Recuperar a Linguagem e a Fala pós-AVC?

A reabilitação das sequelas de comunicação variam muito de pessoa para pessoa:

  • Alguns indivíduos apresentam melhora significativa nos primeiros meses após o AVC
  • Outros continuam progredindo mais lentamente ao longo de anos
  • A recuperação completa nem sempre é possível, mas melhorias na comunicação são alcançáveis para a maioria
  • Mesmo em casos graves, estratégias alternativas de comunicação podem ser desenvolvidas

Fatores que Influenciam a Recuperação

  • Início precoce do tratamento: Quanto antes começar, melhores os resultados
  • Intensidade da terapia:Sessões frequentes e prática diária em casa
  • Motivação e envolvimento: Participação ativa no tratamento
  • Apoio familiar: Suporte e prática com familiares e cuidadores
  • Saúde geral: Controle de outros problemas médicos

O Papel da Família e dos Cuidadores

Familiares e cuidadores desempenham um papel fundamental na recuperação:

  • Praticar exercícios** recomendados pelo fonoaudiólogo em casa
  • Criar um ambiente de comunicação tranquilo e sem pressão
  • Ter paciência durante as tentativas de comunicação
  • Aprender estratégias específicas para facilitar a comunicação
  • Oferecer apoio emocional e incentivo constante

Conclusão

As sequelas de comunicação constituem um desafio significativo após um AVC, mas com tratamento adequado e apoio, muitas pessoas conseguem melhorar sua capacidade. O trabalho conjunto entre o paciente, a família e os profissionais de saúde é essencial para maximizar a recuperação e a qualidade de vida.

Se você ou alguém que você conhece apresenta essas sequelas pós-AVC, busque a avaliação médica e de um fonoaudiólogo o mais rápido possível. O diagnóstico precoce e o início imediato do tratamento são fundamentais para os melhores resultados possíveis.

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